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Andréa del Fuego

A primeira edição do Paiol Literário 2022 contou com a presença de Andréa del Fuego

A paulista Andréa del Fuego abriu a 11ª temporada do Paiol Literário, em um bate-papo realizado em novembro com mediação do escritor e editor do Rascunho, Rogério Pereira. Com patrocínio do banco Itaú, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a programação ainda conta com outros cinco encontros até abril de 2023.

Da geração surgida no começo dos anos 2000, Andréa começou a carreira como contista. Publicou três obras, antes de estrear no romance, em 2010, com Os Malaquias, que narra a história de uma família errática e conquistou no ano seguinte o Prêmio José Saramago. É autora ainda da narrativa longa As miniaturas e de obras infantojuvenis

Em 2022, a autora publicou seu mais recente romance, A pediatra, livro que tem recebido boas críticas e parte de um mote inusitado: a personagem central é uma médica pediatra que não gosta de crianças.

“Quando me veio a ideia, pensei: bom, achei um brinquedinho. Reconheci na hora isso. Porque não precisava nem pensar em trama, nada”, diz a autora. Na conversa, ela comentou ainda o caminho que sua geração tem traçado no exterior, revisitou os anos iniciais como leitora e escritora e falou sobre o momento atual do país, após uma das eleições mais conflituosos da nossa história desde a redemocratização.

• Leitura
Não conheço uma relação tão íntima com um objeto, que entregue mais intimidade, do que a leitura de um livro. Essa ideia de um livro como partitura para o seu próprio pensamento, de um texto literário que oferta esse caminho de pensar durante um percurso, durante uma composição. Uma composição ofertada pelo escritor. Mas é uma experiência de muitos desvios, porque nem sempre a leitura alcança esse lugar de uma quase epifania. Eu por, exemplo, não sou filha nem neta de leitores, o meu acesso à leitura foi na escola pública em São Bernardo do Campo [interior de São Paulo].

• Primeiros livros
Lembro do primeiro contato com a literatura, livros como Vidas secas, do Graciliano Ramos, depois Memórias póstumas de Brás Cubas, do Machado de Assis, obras de Clarice Lispector, clássicos do nosso cânone. Lembro bem a primeira vez em que senti que a literatura não era o mesmo que um texto de geografia, de história, não era o enunciado de uma questão, era outra coisa… Embora a professora de literatura exigisse de mim uma performance de leitura, que eu desse recibo de uma compreensão, a partir da pedagogia da escola. Mas ali senti o primeiro contentamento — e foi através da tristeza e da melancolia de Vidas secas. Um prazer de não conseguir largar o livro, de voltar para algumas páginas. E minha mãe ali, olhando aquilo, um pouco receosa, mas dizendo para si mesma: “Bom, é da escola, então está tudo bem”.

• Clarice
Lembro também que ganhei de uma tia, quando era adolescente, um livro chamado Eu, Cristiane F. — 13 anos, drogada e prostituída. Esse livro tinha uma linguagem muito envolvente. E minha tia achando que era um bom livro para que uma adolescente soubesse o que não se deve fazer. O intuito era moral. Mas minha mãe escondeu o livro e eu nunca terminei a leitura. Depois, mais velha, ali pelos 17 anos, entrei em contato com a obra de Clarice Lispector. Daí foi pesadíssimo. Porque o que estava escrito ali tinha uma transferência tão íntima, que eu tinha ciúmes de quem lia Clarice. Era como se alguém soubesse de mim.

 • Neuroliteratura
Quando estava fazendo mestrado na Filosofia da USP, e fiz uma aula nas Letras, em psicanálise e crítica literária, havia um pesquisador comentando um trabalho chamado Neuroliteratura, em que a ideia era mapear o comportamento neurológico no momento da leitura. Mas não era qualquer leitura, eram clássicos. E se percebeu que o cérebro respondia como se aquilo fosse mesmo uma vivência, havia sinais e outros elementos que são os mesmos que produzimos quando temos uma experiência viva. Pensei, bom, isso não é qualquer coisa.

• Outro lado
Por outro lado, a gente vai endeusando um gesto como se ele fosse capaz de aplacar uma coisa muito selvagem em nós. Isso é uma coisa que me move também, saber se a leitura é capaz de aplacar a violência em alguém — talvez ocupá-la, não dando tempo de ela cometer a violência. Não sei se é exatamente isso. Para mim é um enigma esse acontecimento da linguagem, no ato da leitura.

“Não conheço uma relação tão íntima com um objeto, que entregue mais intimidade, do que a leitura de um livro.”

• Mentir
Tive uma outra professora de literatura que estimulava muito a criação de texto. E ela tinha uma forma de desbloquear os alunos. Lembro de uma explicação, em que dizia o que seria uma redação. Ela disse: “isso que está nesse texto literário, não aconteceu e nem vai acontecer, então o que vocês vão fazer agora é mentir”. Essa ideia da mentira me pegou plenamente. Era muito libertador poder mentir na escola. Aí me entusiasmei, passei a ser aquela aluna que entregava duas, três versões da redação… A professora também logo percebeu que eu gostava muito da escrita e pedia para eu levantar para ler. E eu já tinha gosto de ouvir o que escrevia. Isso com uns 12 anos.

• Prazer
Tão logo tive prazer na leitura, também tive na escrita. Escrevo desde muito pequena, mesmo não tendo a menor ideia, naquela época, de que faria isso para o resto da vida. Mas para ser sincera, nunca tive uma ideia de carreira — e ainda não tenho. Não consigo fazer esse traçado, como um projeto.

• Escola pública
Tomando o meu caso em específico, a escola pública teve um papel imenso na formação de novos leitores. Mas quero dizer também que, na minha classe, havia o meu interesse e o interesse de mais dois ou três alunos. Penso que talvez um jeito de a escola atrair ou aumentar a adesão à leitura, é inverter a linha do tempo da introdução literária. Não começar com Camões, por exemplo. Começar com o Ferréz. Talvez seja um caminho melhor começar por um escritor que fala sobre a realidade atual.

• Sucateiro
A Jeanne Marie Gagnebin, professora de literatura da Unicamp, tem uma definição para escritor, que eu adoro, que é o do “sucateiro”. Ela diz que nós catamos latinhas, a gente cata aquilo que a história não conseguiu dar conta, que o direito não dá conta, que o jornalismo não dá conta, tudo que sobra. Então imagine a força que a literatura tem para a ampliação do seu próprio campo, do seu desenvolvimento sensível mesmo. Acho que se houvesse essa inversão da linha do tempo, você chegaria a Camões, entenderia Camões como uma pessoa muito próxima de um “vida louca”.

• Formação dos professores
E tem a questão também que envolve o professor e o prazer da leitura. Se o professor não teve esse prazer, acho muito difícil que ele faça uma transferência de saber. E outro ponto fundamental é que muitas vezes os professores de escolas públicas fazem vários turnos e não são leitores por questões materiais mesmo, não por uma rejeição. Esse é um lugar para nós, escritores, chegarmos, levando esse prazer da leitura aos professores.

• Trajetória
Não tinha a menor noção, desde o primeiro livro, para onde isso [carreira literária] ia. A começar pela falta de certeza de que vou terminar o livro que estou escrevendo. Depois, se vou conseguir publicar. Ou, a coisa mais enigmática do mundo, que é: como será a recepção do livro? Nem mesmo os editores têm o domínio de como o livro será recebido, porque se tivessem, teriam achado a galinha dos ovos de ouro. Então, em um caminho de quase 20 anos, pelo menos de publicação, eu vivi cada processo de escrita. E cada processo é diferente e me entrega um livro diferente.

• Livros de contos
Quando olho para os meus três primeiros livros de contos — Minto enquanto posso, Nego fogo e Engano seu —, percebo que havia uma linha entre eles, alguma coisa que os unia. Depois de concluídos, eu poderia até dizer, tenho uma trilogia. Mas não que eu tenha pensado isso no começo. É olhando pelo retrovisor que eu vejo algo que se alinhava. Depois, escrevi três livros infantojuvenis, em processos absolutamente distintos também.

• Primeiro romance
Escrever Os Malaquias, meu primeiro romance, foi um desafio. Foram sete anos produzindo o texto, com muitas idas e vindas, abandonos da narrativa, muitas recusas de editoras, até que encontrei a Língua Geral, por onde saiu a primeira edição. E nesses sete anos, ao mesmo tempo que havia uma angústia para terminar o livro, aquilo era impossível de largar.

• Linguagem
Esse primeiro processo de escrita de romance levou sete anos. Muito tempo porque duvidei da minha capacidade de escrever um romance, além de ser um livro que estava baseado na história da minha família — e eu estava achando as emoções envolvidas na escrita absolutamente antiprofissionais. No entanto, eu tinha uma ideia de performance de escrita. Mas fui sendo traída e tendo que romper com essa ideia de performance de escrita para dar conta daquilo que a história exigia. E para mim, ali a exigência foi criar um realismo mágico e uma prosa poética para dar conta do conteúdo. Hoje eu sei que aquele era o tempo necessário para o livro.

As miniaturas
Depois de Os Malaquias, publiquei As miniaturas, um livro que ganhou uma bolsa da Petrobras, em 2013. Depois fui fazer universidade. Estava quase me formando na PUC, comecei tudo de novo na Filosofia da USP. E a Filosofia mudou muito minha leitura, meu modo de ver e lidar com a linguagem. De ficar mais assombrada do que eu já era com a linguagem — assombradíssima, aliás. É um livro que poderia ter sido um ensaio, e não um texto literário.

• Origem de A pediatra
A pediatra, quando me veio a ideia — que é a de uma pediatra que não gosta de crianças —, pensei: bom, achei um brinquedinho. Reconheci na hora isso. Porque não precisava nem pensar em trama, nada. Sabia que era em primeira pessoa, só precisava descobrir como ela falaria. Fiquei meses escrevendo as cinco primeiras páginas. Era um processo que nunca tinha feito antes: ir refazendo e refazendo até encontrar um tom. Quando encontrei o ângulo pelo qual a personagem vê a vida, aí me coloquei a escrever.

“Que delícia é ser ‘macaca velha’. Porque é muito bom se acostumar com a selvageria da criação — e ela é selvagem. E deixar que ela seja, permitir e entender isso.”

• Processo criativo
Como tenho o fôlego curto para romances, sei que em 30 dias, escrevendo durante cinco horas, consigo levantar 120 mil caracteres. Mas isso só é possível com o tempo, porque hoje sou “macaca velha”. E que delícia é ser “macaca velha”. Porque é muito bom se acostumar com a selvageria da criação — e ela é selvagem. E deixar que ela seja, permitir e entender isso.

• Prazer na angústia
Agora, levantar o texto, não significa que ele vai ser bom. Por exemplo, o texto em que estou trabalhando há seis anos, estava escrito em um mês. Estava lá o andaime em pé. Porém, péssimo. Então não é que eu tenha aprendido essa coisa de evolução. Acho que tem um amadurecimento em relação ao fazer literário, ao entendimento do que é isso. Na minha própria vida e no entendimento do que são os livros em conexão. Fico cada vez mais abismada com o que é a literatura. Eu dirigia um carro em alta velocidade sem saber o que ele fazia. E agora eu tenho um sabor, na marcha, em colocar gasolina. Hoje, tenho prazer na angústia.

• Saramago
Este ano passei relendo José Saramago, por conta do centenário de nascimento dele. E como ganhei o Prêmio José Saramago, além de mim, muitos autores brasileiros, portugueses e africanos, foram convidados para falar do Saramago. A Companhia das Letras também me convidou para escrever o prefácio da edição comemorativa do O evangelho segundo Jesus Cristo, então retomei esse autor. Havia lido O evangelho pela primeira vez aos 20 e poucos anos, e na segunda leitura retomei esse espanto com o autor. Nessa releitura, reconheci no autor um compromisso com a escrita, que para ele também é um compromisso com a humanidade.

• Status da literatura
Um autor francês, que veio para uma das edições da Flip, o Pierre Bayard, escreveu um livro chamado Como falar dos livros que não lemos, que é uma retórica, porque como professor de letras e psicanalista, ele está falando de livros que você não leu, mas te levando para um caminho mais verdadeiro. Ele diz que as pessoas leem por cobrança, uma cobrança social, quase por um status pela leitura. E ele fala sobre duas ocasiões de poder: a vergonha de estar diante de um escritor para falar de leituras, porque supostamente esse escritor tem muita leitura, e a vergonha de estar diante de um professor. E que se for levar em conta a leitura para fazer boa pinta no salão, basta entrar numa biblioteca e perceber títulos e a relação da história com os movimentos literários. Porque tem também uma questão de status da literatura, uma ideia de que a leitura vai civilizar ou entregar alguma coisa que não é acessível de outra forma.

• Assumir a leitura
Outra questão interessante é quando ele diz que se você leu só a orelha de um livro, assuma que você teve um contato breve com aquela obra. Se você leu só dois capítulos, assuma isso. Não dizer que fracassou. Você teve um contato com a obra e isso é alguma coisa. E também, falando em liberdade, há a liberdade de abandonar um livro. Ela é um pressuposto para a fruição da leitura.

• Pandemia
Com a pandemia e o momento de reclusão, a gente percebeu que editoras conseguiram atravessar aquele momento, que livrarias conseguiram atravessar a pandemia. Lembro até de uma livraria que abriu as portas durante o período de reclusão das pessoas. Tivemos também a Flip, que conseguiu popularizar o espaço da leitura, embora tenha nascido mais elitista e aos poucos foi ficando mais popular, com a programação paralela e a programação gratuita, nessa ideia de uma festa da literatura e que não depende de uma personalidade X para que esse hábito aconteça.

“Lembro bem a primeira vez em que senti que a literatura não era o mesmo que um texto de geografia, de história, não era o enunciado de uma questão, era outra coisa.”

• Produção na pandemia
Falando da pandemia, em relação à literatura, para quem conseguiu, foi possível produzir. Mas para quem estava no teatro, no cinema, na dança, foi um período de morte. E a leitura e a literatura, elas saíram da pandemia, me parece, vivificadas. Principalmente na quantidade de pessoas que têm vontade de escrever — e aqui queria dizer que sempre falamos muito no direito à leitura, mas eu defendo também um direito à escrita. Para mim, não tem o menor problema se formos 300 milhões de brasileiros escritores. Isso seria muito interessante, inclusive.

• Aumento de leitores
Nos últimos 20 anos, vi aumentar o número de leitores, também o leitor passou a não ser mais um anônimo. Através dos perfis nas redes sociais, o leitor passou a ter um nome e um caminho público de leitura. Fiquei nove anos sem publicar, então eu não sentia essa capilaridade antes, dos clubes de leitura, por exemplo, de leitores que divulgam o livro. O boca a boca foi para um ambiente que pode crescer exponencialmente. Não alcança só o vizinho próximo, digamos assim. E acho que, muitas vezes, essa leitura e essa propagação da leitura tenham ajudado a aumentar as vendas dos livros, o número de leitores.

• Leitor fiel
E não é o leitor sazonal. Também me parece que há um aumento de leitores que têm já um hábito de leitura consolidado. A gente teve a Bienal de São Paulo depois da pandemia, e não me lembro de ver uma Bienal tão histérica pelo livro, com editoras pequenas, médias e grandes vendendo além do que se imaginava. Eu vi adolescentes e pessoas mais velhas com malas de viagem cheias de livros.

• Mulheres escritoras
Sobre esse boom de mulheres escrevendo, lembro que há uns 20 anos o Luiz Ruffato organizou uma antologia só com mulheres — 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira. E lembro que as notícias sobre o livro eram num tom de “vejam, há mais mulheres escrevendo do que se imaginava”. Era um espanto. E de repente, não só as mulheres publicam mais, escrevem mais, como também são a maioria dos leitores. Então é toda uma cadeia: há mais mulheres lendo, mais mulheres escrevendo, há clubes de leitura que só leem livros de mulheres, há perfis que só divulgam livros escritos por mulheres, livrarias que só vendem livros escritos por mulheres. Muitas mulheres estão em júris de premiações literárias, no mercado editorial, atuando como tradutoras, capistas e editoras.

• Mulheres nas premiações
Hoje, no dia em que conversamos aqui [9 de novembro de 2022], saiu a lista do Prêmio Jabuti. Na categoria romance, são cinco mulheres as finalistas [Andréa del Fuego, Aline Bei, Natalia Borges Polesso, Micheliny Verunschk e Tatiana Salem Levy]. Quatro mulheres brasileiras estão entre os 10 melhores livros do Prêmio Oceanos em 2022. Então é um momento muito bom.

• Contemporâneos
Vejo que isso colaborou para esse momento, que acho muito frutífero, e muito esperançoso da literatura brasileira contemporânea, e um sinal maravilhoso disso é Torto arado, do Itamar Vieira Junior. Livro de um autor que estoura a nossa seita de três mil leitores, como diz o Marçal Aquino. Mais de 400 mil exemplares é um grande best-seller. E hoje, a gente sabe, conversando com colegas, que se vendem mais livros de autores contemporâneos brasileiros vivos. Há uma busca por essa leitura

• Brasil no exterior
Certamente que a música é muito mais fácil de atravessar fronteiras do que a literatura. Mas tivemos aquele boom que precedeu 2013, antes da homenagem da Feira de Frankfurt ao Brasil. Nessas ocasiões, há uma curiosidade natural sobre a literatura do país homenageado. Muitos autores brasileiros tiveram seus livros vendidos para serem traduzidos por conta daquela ocasião. Os Malaquias foi um deles. Claro, um pouco antes o romance já havia recebido o Prêmio José Saramago e isso ajudou. Ele foi traduzido para nove línguas.

• Isolamento da língua
Somos um país continental, mas isolados pela língua portuguesa. Nossos vizinhos todos têm uma troca frutífera e literária com seus conteúdos de identidade, por falarem a mesma língua, que a gente não tem. Acho que lemos muito mais os argentinos do que os argentinos nos leem, por exemplo.

• Novo boom
Depois da Feira de Frankfurt, deu uma baixada no interesse pela literatura do Brasil, mas percebo que agora, recentemente, voltou a aumentar. O Vista chinesa, da Tatiana Salem Levy, que é finalista do Oceanos e do Jabuti, é um livro bárbaro e já está traduzido em alguns países. Estou lembrando também da Giovana Madalosso [autora de Suíte Tóquio], do Torto arado, que está passeando pelo mundo. O Paulo Scott, que foi finalista do Booker Prize, acabou de fazer uma turnê pela Inglaterra. Mas é um interesse tímido, claro, se for comparado com a nossa música. Quando na verdade a literatura é um baita soft power desperdiçado por uma administração pública da nossa cultura. Isso é impressionante.

• Brasil atual
Vivemos esse experimento da extrema direita, acho que é um movimento internacional. O conteúdo de extrema direita, que quase não possibilita uma reflexão, porque é muito rápido nas redes sociais, nós vimos nas eleições para presidente, vimos durante o governo e vamos ver agora na oposição, loucamente. Que é para sempre deixar essa ideia acesa, enfim. Essa ideia, também, unida a uma religiosidade e a uma ideia de culto à personalidade — que não é só na direita.

“Para ser sincera, nunca tive uma ideia de carreira — e ainda não tenho. Não consigo fazer esse traçado, como um projeto.”

• Sem ar
A gente viveu um sufocamento e deu para sentir o valor do simbólico. Como o simbólico afeta o real. Porque o presidente não entrou na casa de cada um, pegou seus livros e botou fogo neles. Mas o fato de ele dar invisibilidade para qualquer produção, sem exatamente, digamos, uma ação, foi como tirar o nosso ar para respirar. Isso em todos os campos artísticos.

• Futuro
Acho que a gente conseguiu frear um movimento de sufocamento do pensamento. É um coisa pré-iluminista esse movimento, contra a ciência, contra a racionalidade. Eu vejo luta, acho que não tem descanso. Entramos em uma era, em um clico de extrema direita, e não sabemos se está no início, no meio ou no final. Ter dado uma freada aqui, não quer dizer que essa semente não foi colocada. O que temos agora é uma extrema direita popular.

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